O que é Teologia?Apesar da palavra teologia ter como simples significado "estudo de Deus", não devemos imaginar que Deus é o objeto de estudo dessa ciência, pois Deus não pode ser estudado em sua totalidade como se fosse algo analisado em laboratório. De acordo com Gustaf Aulén (1965, p.19), "o objeto de estudo da teologia é a fé cristã como realidade dada, objetiva [...]. A teologia tem por objetivo o estudo e a pesquisa da fé cristã". Isso significa dizer que quando falamos de teologia nos referimos ao entendimento humano sobre Deus, sobre a fé, ou seja do que Deus revelou de si. Este é o limite da teologia.A realidade é que conhecemos de Deus apenas o que ele se deixa revelar, sobre isso José Carlos de Souza (2019, p. 5) nos diz: "Deus revelatus (...) Deus absconditus. O Deus que se revela permanece mistério profundo e indecifrável". No estudo teológico consideramos a pluralidade de pensamentos e ideias sobre Deus, afinal, nenhuma teologia é palavra final, somente Deus é absoluto, nesse sentido, segundo Ray Dunning (2019, p. 25) "teologia não envolve somente palavras sobre Deus, mas também palavras sobre o homem em relação a Deus". Jürgen Moltmann (2016, p. 49) fez uma das melhores definições de teologia, segundo ele, a "teologia é uma tentativa de captar no intelecto aquilo que se experimenta no coração". É preciso levar em consideração o longo processo de desenvolvimento da teologia e com toda a humildade, assim como o teólogo brasileiro Dr. Márcio Simão, afirmar que "teologia se faz em diálogo".TeólogosSe a teologia é o esforço humano de compreender a Deus e a forma que a humanidade reflete sobre Deus, entendemos que o teólogo é quem está preocupado em transmitir esse conhecimento não somente para a comunidade de fé, mas também para o mundo. A teologia não é absoluta, somente Deus é absoluto. No discurso teológico estamos todos tateando, procurando descrever Deus. Essa tarefa deve ser feita reconhecendo os limites da própria reflexão teológica, e respeitosamente assumindo o caráter dialogal da teologia. Não existe uma teologia, mas sim teologias. Seja teologia luterana, teologia calvinista, teologia pentecostal ou teologia wesleyana, e muitas outras. Desta forma, é preciso humildade para dialogar com outros pontos de vista, por isso uma teologia humilde sempre será ecumênica. Teologia se faz em diálogo. Devemos pensar na teologia de três formas: Teologia acadêmica; Teologia confessional; teologia popular. A teologia acadêmica está preocupada com pesquisa acadêmica, cientifica e interdisciplinar, sempre feita de forma ampla e preferencialmente fora das caixas denominacionais, mas sim dialogando com todos os pensamentos teológicos. Além disso, desde 1999 o curso de bacharel em teologia foi reconhecido pelo MEC (Ministério da Educação), que com os passar do tempo definiu diretrizes especificas para as instituições de ensino superior como por exemplo ter corpo docente capacitado. Já a teologia confessional está preocupada com as questões dogmáticas assumidas por cada confissão de fé. Por fim, a teologia popular está relacionada à manifestação do pensamento e reflexão de todo cristão e cristã, ou seja, cada crente que ao ler a Bíblia reflete sobre seu significado e o que o texto diz ao seu coração está fazendo teologia, nesse sentido, somos todos teólogos. Evidentemente alguns se especializam e se dedicam ao estudo mais profundo, seja confessional ou acadêmico, mas sim, todos que leem a Bíblia procurando significado para sua vida estão fazendo teologia.
Uma vez alguém disse que "teologia esfria o crente". Essa fala é muito problemática por várias razões, mas vale destacar que geralmente quem reproduz uma fala dessa está diminuindo a importância do estudo teológico justamente por preguiça de estudar mais a Palavra de Deus, ou por medo de perceber que nem tudo que ele aprendeu é exatamente da forma como lhe ensinaram. Seja como for, quem diz isso ignora o que dissemos, pois é impossível não fazer teologia, a menos que não se leia a Bíblia. Outro ponto, diminuir a teologia ignora também que só temos a Bíblia em português porque teólogos interpretaram os textos originais com hermenêutica e exegese, um processo altamente teológico, nesse sentido, sem teologia sequer teríamos Bíblias traduzidas para o português.
Refletir sobre teologia sempre foi um processo inacabado, é preciso levar em consideração o chão vivencial onde se faz teologia. O próprio Novo Testamento é fruto da lembrança e leitura dos fatos e acontecimentos que envolveram Jesus de Nazaré, o Cristo, visando fornecer respostas às crises e problemas das comunidades cristãs. Nesse sentido, os autores do Novo Testamento inspirados pelo Espírito de Deus, produzem escritos com intenções teológicas claras.
A teologia tem algumas áreas de aplicação e ênfase muito interessantes, como a teologia bíblica, teologia sistemática, teologia prática e teologia histórica, cada uma com sua importância. Um dos ramos da teologia que tem se tornado cada vez mais urgentes é a teologia pública, que está dentro da aplicabilidade prática da teologia. Sua importância se deve ao fato de que estamos inseridos numa sociedade, formada por pessoas criadas por Deus, com problemas reais. O conhecimento teológico não pode ficar enclausurado na comunidade de fé, mas deve ir às vielas dos marginalizados levando esperança, fazendo teologia a partir do chão em que se vive. É possível responder aos desafios da atualidade, como as injustiças sociais, por meio de uma teologia prática. Mas para isso é preciso uma presença pública da igreja na sociedade, participando da concretude da vida de homens e mulheres, refletindo sobre o sagrado a partir do contexto brasileiro e fornecer respostas para a transformação da realidade.
Nesse sentido, é fundamental elaborar um discurso teológico que esteja preocupado com questões atuais e necessárias da sociedade. Um exemplo é a crise ecológica que o mundo enfrenta, a teologia deve participar do debate público fomentando o diálogo e propondo contribuições, por tanto torna-se importante uma abordagem "ecoteológica" para lidar com a problemática. Além disso, há diversos temas onde a teologia pública pode contribuir, como em questões bioéticas, luta contra o racismo, enfrentamento da pobreza, violência contra a mulher etc.
Para concluir, se somos cristãos então queremos aprender mais sobre Jesus de Nazaré, o Cristo, e para isso é indispensável a reflexão teológica. Toda a vivência cristã envolve teologia, e todos fazem teologia em certa medida, pois usam o intelecto e a razão refletindo sobre a experiência de fé. Primeiro vem o encontro com Deus, depois vem a reflexão sobre esse encontro. Primeiro vem a experiência com o Sagrado e Divino, depois vem as ponderações sobre a experiência. Primeiro vem o encontro com Jesus Cristo vivo, depois a procura do sentido para nossas vidas a partir desse encontro. Tudo isso é teologia. E para os teólogos, é fundamental que essa teologia se desdobre em prática concreta, seja através das pregações, das ações sociais, do aconselhamento pastoral, ou por meio da teologia pública para promoção da cidadania e do bem-comum. A teologia não pode ficar enclausurada na comunidade de fé, mas deve ser viva e prática, trazendo a luz de Cristo Jesus para o mundo.
Bacharel em teologia (Unigranrio) com pesquisa em teologia pública. Sua ênfase de pesquisa atual está em teologia do Novo Testamento, cristologia, escatologia e teologia pública. Autor do livro "Fé Pública", um livro de teologia pública em perspectiva da teologia wesleyana. Além disso possui licenciatura em química (Unigranrio).
Texto de suma relevância para o meio cristão!
ResponderExcluirBrilhante texto para os tempos atuais.
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ResponderExcluirEsse texto é uma aula completa onde podemos aprender e também um despertamento para nos atualmente.
O texto trás reflexões sérias sobre o papel do Cristão nos dias atuais, onde a teologia está sendo feita somente entre 4 paredes, deixando de lado a relevância da igreja perante a sociedade.
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